A lenda do rei-destino
Este artigo é a Parte 1 da série: Ruínas de uma era dourada
Este império fora erguido por um rei,
Um mortal ascendido a deus vivente. A vontade do monarca ordenava o mundo, Mas nenhum homem governa eternamente.
Há muito, muito tempo, todas as terras conhecidas estiveram sob o julgo de um único homem. Os povos de hoje o chamam de muitos nomes: Khem, Khan, Ka'mi-Ken, Caim, Al-Khalid, Diabo Velho... Mas um epíteto é quase sempre o mesmo: "o rei-destino".
Como tal monarca ascendeu ao poder é um mistério. Há quem o descreva como o único homem a dobrar seu destino. Outros, que fora um deus manifesto em carne. Há quem o descreva como um guerreiro feroz ou um feiticeiro sem igual. Independente da forma de sua ascensão, ele se tornou poderoso e longevo.
Pela vontade do rei-destino, rios se tornavam canais, montanhas se erguiam ou ruíam, ventos serviam a seus desígnios, as estações se transformavam. Seus prodígios eram infindáveis, mas também o era sua sede de poder.
O reino antigo se espalhou por todo o continente. A fúria do monarca garantia um fim rápido e fulminante aos inimigos. Tempestades varriam cidades rebeldes; vulcões subjulgavam povos desafiadores. Conta-se até mesmo sobre um reino rival que, após resistir por anos aos exércitos imperiais, fora simplesmente arrancado à força do continente e atirado aos céus.
O rei-destino desejava moldar o mundo num paraíso. Sua pretensão era unir os povos e criar uma era dourada eterna. As pessoas seriam libertas das amarras do destino e das agruras do mundo selvagem, e em sua felicidade se curvariam ao rei onipotente.
Porém, quanto mais o domínio do rei-destino se expandia, mais o controle escapava de suas mãos. O mundo insistia em se manter indomável e imperfeito. Fome, peste e morte ainda se espalhavam pelo império. Pior, muitas províncias, mesmo após décadas de subjugação, ainda ousavam se rebelar e exigir liberdade.
"Insolentes! Ignorantes! Ingratos!", o rei-destino vociferava, cada vez mais desesperado. "Como é possível?", questionava-se. Podia esculpir o mundo, manipular céus e mares, destruir nações, conceder grandes dádivas, mas ainda assim seu paraíso dourado não se concretizava.
E, nas profundezas da insanidade, a resposta lhe foi dada: era impossível tornar perfeito o que nascera imperfeito, e nada era mais imperfeito do que o homem. Era preciso destruir tudo o que estava errado. Recomeçar o mundo, desta vez direito, e criar uma nova humanidade, mais sábia e obediente.
E assim, em nome de um sonho dourado, o mundo foi lançado nas trevas.
Sob o peso do poder, o rei sucumbiu.
Sua sanidade, abalada, feneceu.
Oráculos tombaram, Pilares ruíram,
E o mundo, esfacelado, ensombreceu.
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